Cores e Valores

O meu bolo estava tão bonito com todas aquelas cores.

Aquele rosa forte tinha muito que se lhe diga. O sentimento que ele revelava de compartilhar tudo o que a vida tinha de bom era extraordinário e simplesmente brilhante, tal como todos os sorrisos e olhares que ele criava ao ajudar quem mais precisava. Ele tinha a necessidade de sentir que todos à sua volta estavam bem e felizes mas, agora, acho que nem ele está feliz!
Pobre rosa, ninguém lhe deu valor.

Lembram-se do laranja?
Esse ia sempre à frente do grupo, chamavamos-lhe o chefe das cores. Era bastante corajoso e orgulhoso, já para não dizer que também era muito alegre, sociável e ambicioso, mas agora em vez de lhe chamarmos chefe das cores chamamos-lhe carroça das cores. Com a junção do preto, o laranja ficou mais escuro, e em vez de sentir coragem sentiu medo.
Ninguém lhe deu atenção, ninguém lhe deu valor.

O amarelo também é interessante.
Todas as manhãs ele dizia O sol é a estrela mais brilhante e mais bela que existe. Nós sem ela não existimos. Ao inicio ninguém ligava ao que ele dizia, mas depois vimos que é um dos bens essenciais para que as plantas realizem a fotossíntese - processo bastante complexo.
Sim, ele tinha sabedoria e, sem dúvida, era conhecedor do que dizia, mas como nem todos eram tão inteligentes como ele, ninguém lhe ligava. As pessoas diziam que o amarelo era maluco..
Ninguém deu valor às suas ideias, à sua inteligâência. Ninguém lhe deu valor...

Verde, meu amigo verde...
Todos o conheciam como o homem esperança. Não sei se ele tinha vida própria ou não, mas que era bastante procurado era. O preto, e outras cores mais escuras, andavam constantemente a procura dele, a pedir-lhe ajuda; diziam que se sentiam muito tristes e sozinhas, mas que quando estavam perto do verde se sentiam calmas e confortáveis.
Sensível como o verde era acolhia toda a gente, tornando-se cada vez mais escuro, até que chegou à altura em que ele já não era o verde da natureza, mas sim o verde que se podem encontrar nos sítios mais obscuros e nojentos. Usaram e abusaram do verde, até que o destruíram. Ele precisava de ajuda e ninguém lhe estende a mão, ninguém quis saber dele,
Também a ele, ninguém lhe deu valor.

Já estava a sentir a falta do azul, aquele que dizia está tudo bem.
Riamos tanto com ele, era tão alegre e inteligente. Podiamos-lhe dizer tudo que ele não dizia nada a ninguém. Era verdadeiro, tinha fé, era culto... Chamavamos-lhe perfeição, mas, ainda assim, nem todos gostavam, dele! Alguns sentiam inveja e começaram a mal tratar o pobre azul.
Com o passar do tempo, este começou a sentir-se cada vez mais sozinho e triste, entrando mesmo em depressão. Sem saber o que fazer no meio daquela situação, decidiu fugir e ficar sozinho, assim ninguém o magoava. Sozinho fugiu e sozinho permaneceu durante bastante tempo.
E ninguém mais se lembrou dele  ninguém mais lhe deu valor.

Por fim, falemos do roxo.
Diziam que era muito complexo, mas eu nunca achei tal coisa, e tu achas? Achas que o roxo também acabou como as outras cores?
Infelizmente sim, mas a sua história é tão triste que eu nem a vou escrever. É triste ver que tudo o que existe acaba por ficar sem cor, mas é a realidade.

Onde estão os sentimentos?

Onde estão os valores?

Não sei, mas gostava mesmo de saber.

Gostava de saber quem roubou aquelas cores tão bonitas ao meu bolo.