quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Em busca dos sorrisos


   já passou quase um mês desde que vim de Atenas. queria escrever algo e partilhar a minha experiência com as palavras, mas foram demasiados sentimentos para gerir. apenas hoje consigui falar acerca daquilo que vivi durante todos aqueles dias. talvez não consiga extriorizar tudo aquilo que presenciei no campo sem verter uma lágrima, mas penso que isso seja inevitável. vai acontecer sempre, seja que dia for.
   o campo de refugiados de Skaramagas existe desde fevereiro do presente ano (2016) e tem capacidade para 3200 indivíduos. este campo acolhe pessoas vindas de diversos sítios, como: Síria, Iraque, Irão, entre outros. diferentes histórias que chegam de diferentes sítios com diferentes pessoas, onde todas elas buscam o mesmo: a salvação do possível e impossível.
   são hisórias que preferi não perguntar. sabia que iria ser doloroso para as pessoas voltarem a pensar naquilo que viveram, então fiz apenas aquilo que o meu coração me pedia para fazer: colocar-lhes um sorriso na cara, mesmo que fosse apenas durante um segundo.
   em busca dos sorrisos: era a minha missão. foi aquilo que pensei no primeiro dia que cheguei ao campo. nervosa e ao mesmo tempo ansiosa, queria ajudar as pessoas da melhor maneira, mas sabia que ia lidar com histórias muito fortes, tão fortes que nem a minha imaginação iria conseguir lá chegar. queria fazer algo pelas pessoas, sobretudo pelas crianças. queria brincar com elas e provocar-lhes sorrisos. quiçá uma boa gargalhada. queria divertir as mães, ajudá-las a deixarem de pensar por um instante na vida delas, mas essa tarefa já era mais complicada. foi então que percebi que a melhor forma de alegrar uma mãe, era alegrar o seu filho. finalizada a dança com as crianças, a mães conseguiam expressar uma pequena curva nos seus lábios.
   as crianças deliravam com as atividades e a hora da dança era a mais caótica de todas! quinze minutos antes da aula começar a fila para entrar já ultrapassava a carrinha da cruz vermelha que estava estacionada ao lado do contentor onde se iria realizar a dança. após ir buscar os materiais e abrir a porta, ao dar a ordem de que podiam entrar, a crianças ultrapassavam-se umas às outras, criando acidentes de sapatos que eram deixados à entrada do contentor. posição, som, dança! eram os noventa minutos mais felizes do dia. o calor que se instalava de tanta energia, as mãos que puxavam as minhas para dançar, os risos que se ouviam lá fora... era tudo, o contentor já abanava de tanta alegria. juro-vos, juro-vos que foi das melhores sensações que tive. era tão bom, mas tão bom ver os sorrisos e a energia daquelas crianças!
   os desenhos, as pinturas, as aulas de inglês... eram tudo atividades que me preenchiam muito por dentro. senti-me como nunca me tinha sentido antes. sentia que estava a ser útil, que estava rodeada de amor verdadeiro.
   foram muitos os acontecimentos na Grécia, muitas convivências e experiências, mas o que mais me marcou foram mesmo os sorrisos das crianças. foram dias que não irei esquecer e que irei guardar na minha memória para sempre.
   fazer voluntariado na grécia foi algo que decidi em menos de uma semana mas, por outro lado, é algo que vai permanecer em mim para todo o sempre.

4 comentários:

  1. Os sorrisos das crianças são o mais bonito que a Natureza nos podia ter dado.
    Beijinhos e parabéns pela experiência.

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  2. Bom texto Gabriela. Acho que seria bom as pessoas lerem estas experiencias, porque na minha opiniao há muita gente que nao vê o outro lado da realidade e é triste. keep going ;)

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    1. Obrigada! Gosto de partilhar as minhas ideias e experiências com as palavras. São bons ouvintes ;)

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